A Confissão de Fé dos Evangélicos Católicos

Uma declaração de fé “evangélica pura e simples” para celebrar os 500 anos da Reforma

A CONFISSÃO DE FÉ DOS EVANGÉLICOS CATÓLICOS
O QUE NÓS, EVANGÉLICOS, REPRESENTANDO DIVERSAS IGREJAS E TRADIÇÕES TEOLÓGICAS, AFIRMAMOS CONJUNTAMENTE

“Cremos…”

Deus Triúno

Que há um só Deus, infinitamente grandioso e bom, o Criador e Sustentador de todas as coisas visíveis e invisíveis, a única fonte de verdadeira luz e vida, que tem vida em si mesmo e vive eternamente em luz gloriosa e amor soberano em três pessoas — Pai, Filho e Espírito Santo (Mt 29.19; 2Co 13.13) — coiguais em natureza, majestade e glória. Tudo o que Deus faz ao criar, sustentar, julgar e redimir o mundo reflete quem Deus é, aquele cujas perfeições, incluindo amor, santidade, conhecimento, sabedoria, poder e justiça, têm sido reveladas na história da salvação. Deus intentou livremente, desde antes da fundação do mundo, eleger e formar um povo para si para ser sua propriedade especial (Dt 7.6), para o louvor de sua glória (Ef 1.3-14).

As Sagradas Escrituras

Que Deus tem falado e continua a falar nas Escrituras e por meio delas, a única regra e autoridade infalível e suficientemente clara para a fé, para o pensamento e para a vida cristãos (sola scriptura). As Escrituras são a palavra inspirada e iluminadora de Deus nas palavras de seus servos (Sl 119.105), os profetas e apóstolos, uma autocomunicação graciosa da própria luz e vida de Deus, um meio de graça para o crescimento em conhecimento e santidade. Deve-se crer tudo o que a Bíblia ensina, obedecer a todos os seus mandamentos, confiar em todas as suas promessas e respeitar tudo o que ela revela (2Tm 3.16).

Seres Humanos

Que Deus comunica sua bondade a todas as criaturas, mas de maneira especial aos seres humanos, a quem criou segundo sua própria imagem, tanto homens quanto mulheres (Gn 1.26,27), de modo que todos os homens, mulheres e crianças foram presenteados graciosamente com dignidade inerente (direitos) e vocação como criaturas dele (responsabilidades).

A Condição Caída

Que a condição original bondosa da criação e do ser humano foi corrompida pelo pecado, a saber, a escolha autodestruidora dos primeiros seres humanos de negar o Criador e a ordem criada ao optar por seu próprio caminho, violando a lei de Deus que rege a vida (Rm 3.23). Por meio da desobediência ao legislador, Adão e Eva trouxeram sobre si mesmos caos em vez de ordem (Rm 8.20,21), condenação em vez de aprovação divina e morte em vez de vida para si mesmos e para seus descendentes (Sl 51.5; Rm 5.12-20).

Jesus Cristo

Que Jesus Cristo é o Filho eterno de Deus que se tornou humano por nós e por nossa salvação (Jo 3.17), o único Mediador (solus Christus) entre Deus e a humanidade (1Tm 2.5), nascido da virgem Maria, o Filho de Davi, e servo da casa de Israel (Rm 1.3; 15.8), uma pessoa com duas naturezas, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ele teve uma vida plenamente humana, tendo entrado na desordem e desolação da existência caída, ainda que sem pecado, e em suas palavras, ações, atitudes e sofrimento encarnou a livre e amorosa comunicação da própria luz (verdade) e da vida (salvação) de Deus.

A Obra Expiatória de Cristo

Que Deus, rico em misericórdia para com os que não merecem, fez uma provisão graciosa para as transgressões, a corrupção e a culpa humanas de modo provisório e tipológico por meio do Templo de Israel e das ofertas pelo pecado; depois de modo definitivo e glorioso na dádiva da morte sacrificial suficiente e perfeita e de uma vez por todas de Jesus na cruz (Rm 6.10; 1Pe 3.18) no templo de sua carne humana (Hb 10.11,12). Por meio de sua morte em nosso favor, ele revelou o amor de Deus e sustentou a justiça divina, ao remover nossa culpa, subjugar os poderes que nos mantinham cativos e nos reconciliar com Deus (Is 53.4-6; 2Co 5.21; Cl 2.14,15). É inteiramente pela graça (sola gratia), e não por meio de nossas próprias obras ou méritos, que fomos perdoados; é exclusivamente pelo sangue derramado de Jesus e não por nosso próprio suor e lágrimas, que temos sido purificados.

O Evangelho

Que o evangelho são as boas-novas de que o Deus triúno derramou sua graça na vida, na morte, na ressurreição e na ascensão de seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, para que por meio de sua obra pudéssemos ter paz com Deus (Rm 5.1). Jesus viveu em perfeita obediência, mas, mesmo assim, sofreu tudo o que os pecadores mereciam para que eles não precisassem buscar uma justiça própria, dependendo de suas próprias obras, antes, por meio da confiança nele como cumprimento das promessas divinas, pudessem ser justificados pela fé somente (sola fide) de modo a se tornar coerdeiros com ele. Cristo morreu no lugar de pecadores, absorvendo o salário do pecado (Rm 6.23), de modo que aqueles que confiam nele também morram com ele para o poder, para o castigo e (por fim) para a prática do pecado. Cristo ressuscitou como o primogênito de uma criação renovada e restaurada, de modo que aqueles que o Espírito unir a ele pela fé são ressuscitados e feitos uma nova humanidade nele (Ef 2.15). Renovados e conformados à imagem de Deus, eles, por meio disso, são capacitados a viver plenamente a vida dele. Unidos com Cristo e vivificados nele, o único fundamento da salvação, os pecadores são reconciliados com Deus — justificados, adotados, santificados e por fim filhos da promessa glorificados.

A Pessoa e a Obra do Espírito Santo

Que o Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade, a presença invisível porém ativa de Deus no mundo, que une os crentes a Cristo, regenerando-os e tornando-os uma nova criatura (Tt 3.5) com um coração voltado para a luz e para a vida do reino de Deus e para a paz e a justiça sobre a terra. O Espírito habita naqueles a quem vivifica com Cristo, por meio da fé os incorpora no corpo de Cristo e os conforma à imagem dele para que possam glorificá-lo à medida que crescem em conhecimento, sabedoria e amor para se tornarem um povo com santidade madura, a medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4.13). O Espírito é a luz da verdade e o fogo do amor que continua a santificar o povo de Deus, impelindo-o ao arrependimento e à fé, diversificando seus dons, dirigindo seu testemunho e capacitando seu discipulado.

A Igreja

Que a igreja, una, santa, católica e apostólica é a nova sociedade divina, o primeiro fruto da nova criação, o ajuntamento completo dos redimidos em todos os séculos, dos quais Cristo é Senhor e cabeça. A verdade de que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, é o firme fundamento da igreja (Mt 16.16-18; 1Co 3.11). A igreja local é tanto a embaixada quanto a parábola do reino do céu, um lugar terreno em que sua vontade é realizada e ele está agora presente; ela está presente de modo visível em todo lugar em que dois ou três se reúnem em seu nome para proclamar e propagar o evangelho em palavras e obras de amor, e por meio da obediência às ordens do Senhor de batizar discípulos (Mt 28.19) e celebrar a ceia do Senhor (Lc 22.19).

Batismo e Ceia do Senhor

Que essas duas ordenanças, batismo e ceia do Senhor, que alguns entre nós denominam “sacramentos”, estão atreladas à Palavra pelo Espírito como palavras vivíveis que proclamam a promessa do evangelho e, portanto, se tornam locais em que os recipientes encontram a Palavra novamente. Batismo e ceia do Senhor comunicam vida em Cristo aos fiéis, confirmando-os em sua certeza de que Cristo, a dádiva de Deus para o povo de Deus, é, de fato “por nós e por nossa salvação” e os alimenta em sua fé. Batismo e ceia do Senhor são pontos de convergência físicos para percepções vitais da Reforma: as dádivas de Deus (sola gratia) e a fé que se apropria de sua promessa (sola fide). São expressões palpáveis do evangelho na medida em que retratam de modo vívido nossa morte, nossa ressurreição e nossa incorporação no corpo de Jesus (“um pão … um corpo” — 1Co 10.16,17), fielmente apresentando Cristo e a reconciliação que ele alcançou na cruz. Batismo e ceia do Senhor fortalecem os fiéis ao recordar, proclamar e selar visivelmente a promessa graciosa de perdão dos pecados e comunhão com Deus e de uns com os outros por meio do sangue de Cristo que traz a paz (1Co 11.26; Cl 1.20).

Vida Santa

Que por meio da participação no batismo e na ceia do Senhor, bem como pela oração, pelo ministério da Palavra e por outras formas de culto coletivo, crescemos em nossa nova condição como povo de Deus, uma nação santa (1Pe 2.9,10), chamados para nos revestirmos de Cristo por meio de seu Espírito que habita em nós. É por meio do poder vivificador do Espírito que vivemos imitando a Cristo e seus discípulos, individual e coletivamente, um sacerdócio real que proclama suas obras excelentes e oferece nosso corpo como sacrifício espiritual em adoração correta a Deus e em serviço sacrificial ao mundo, por meio de obras de amor, compaixão pelos pobres e justiça aos oprimidos, e assim, sempre, em todo lugar e a todos dando testemunho sábio do caminho, da verdade e da vida de Jesus Cristo.

Últimas Coisas

Que no tempo e da forma determinados pelo próprio Deus, o Cristo que ressuscitou e ascendeu fisicamente voltará de modo visível para consumar o propósito de Deus para todo o cosmo por meio da vitória sobre a morte e o Diabo (1Co 15.26). Ele julgará o mundo, designando todo aquele que persiste na descrença para um destino eterno longe dele, onde a vida e a luz dele já não estão. Contudo, ele preparará seu povo como uma noiva para o banquete nupcial do Cordeiro (Ap 19.7-9), dando descanso a corações inquietos e vida a corpos glorificados (1Co 15.32; Fp 3.21) na medida em que exultam em comunhão alegre com seu Senhor e se alegram no novo céu e na nova terra (Ap 21.1,2). Ali eles reinarão com ele (2Tm 2.12; Ap 22.5) e o verão face a face (1Co 13.12; Ap 22.4), para sempre arrebatados em admiração, amor e louvor.

Soli Deo Gloria!